sexta-feira

Fresta

 Vou vivendo uma vida boa, boa o suficiente, com amor o suficiente. Trabalho, cozinho, me exercito, tento manter corpo e mente sãos. Ao finais de semana, esfumo o peito. Mas o diabo está me olhando por uma fresta. O diabo está sempre ali me olhando por uma fresta, esperando que eu pare e baixe minha guarda. E quando o faço, ele se encolhe feito água, passa pela fresta e me inunda: será que não é hora de ir? Vai ficar aqui pra sempre? Vai viver essa vida pra sempre? O resto do mundo te espera. O diabo é mirabolante, megalomaníaco, delirante, egoísta. O diabo me impele a entrar eu mesma por frestas, de máscaras, de fronteiras, de saias e de corações. O diabo me encharca de desejo. Às vezes consigo fazer uma oração e exorcizá-lo. Ele volta pra sua fresta e eu volto pros meus dias que são bons o suficiente. Só que cada vez que o diabo passa por essa fresta, ele deixa em mim um pouco de si  e deixa também uma pitada de culpa por desejar, bem lá no fundo, nunca ser exorcizada.

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