segunda-feira

Sozinha

Meu pai tinha um restaurante no centro de uma cidade histórica  
Ele e minha mãe faziam pizza
E outras coisas
Mas pizza era o que faziam de melhor. 
E ali, 
Em uma mesa no centro da história do ciclo do ouro, 
algumas mulheres se sentavam desacompanhadas
No geral, gringas. 
Se sentavam, pediam uma pizza,
as vezes uma cerveja. 
E comiam sozinhas. 
Ficavam só ali por horas
Quantas horas quisessem. 
Sozinhas. 
Eu as olhava com admiração. 
Meu pai as olhava com estranheza: 
que graça tem sair assim? 
Não ter ninguém pra conversar? 
Minha mãe, não sei. 
Nunca me disse como as via. 
Hoje sou eu,
estrangeira
estranha.
Sentada em um café 
acompanhada por poesia, 
uma cerveja,
essas linhas 
e muitos olhares como os do meu pai.

Como vai você?